A quinta-feira é o meu dia preferido da semana. Hoje. À quinta-feira eu sinto que tenho mais vida além dos trapos e das crianças, que vou a mais lugares além do triângulo casa-colégio-trabalho-colégio-casa, que há outras pessoas e outros sorrisos prontos a desejar-me um bom dia. Levanto-me igualmente cedo, não vacilo, mas depois de deixar as miúdas entro noutra rota.
À quinta-feira compro fruta e legumes na mercearia biológica, peixe fresco na peixaria que o meu tio recomendou, pão acabado de coser. À quinta-feira deixo o carro estacionado à porta, vou a pé para o atelier e elogio este pedacinho de qualidade de vida. À quinta-feira, hoje, almoço na cozinha, muitas vezes caldo verde, bifes de fígado ou filetes de peixe, e é tão bom chegar e ter a comida na mesa à minha espera, é um regresso saudosista à casa da mãe e aos tempos do liceu. À quinta-feira não empurro os berbicachos com a barriga e trato da coisas, fazendo a equipa perfeita com a minha Lurdes, rapariga ainda nova que já nos atura desde adolescentes e que cuida das nossas casas. E das nossas filhas. Hoje. Camila adoentada não foi para o colégio e eu ganhei 15 minutos deitada na cama com ela, só eu e ela, uma pausa no meu dia, que diferença que [nos] fez. E depois os finais de tarde. Cheiro a limpo, jantar adiantado, tudo no sítio. Mesmo nas semanas difíceis, mesmo quando durmo pouco e estou tão cansada, há sempre uma quinta-feira [e eu hoje escrevo mais para mim do que para os outros, escrevo para fixar e contrariar esta mania de viver num tempo mais à frente do presente que me impede de reter e de me aperceber, provavelmente, das coisas boas que a minha vida também tem].